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“Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos.”
Darcy Ribeiro
Não pude pensar em outro texto quando vi a entrevista de Kurt Trennepohl. O procurador federal que assumiu a presidência do Ibama logo após a renúncia de seu antecessor, Abelardo Bayama Azevedo, com a missão de aprovar o aos trancos e barrancos o licenciamento da PCH de Belo Monte foi gravado em off por uma repórter australiana sobre o assunto, quando deu as declarações ridículas que me motivaram a escrever esta notinha.
O fato de nossxs governantes se sentem à vontade para passar por cima dos direitos de mais de vinte etnias ao longo da bacia do Xingu, que serão afetadas diretamente pelas mudanças trazidas pelas obras, passar por cima de todos os indícios fortíssimos demonstrados cientificamente de que Belo Monte será uma tragédia ambiental e econômica já é uma coisa bizarra. Fazer tudo isso com o dinheiro dx contribuinte, mais bizarro ainda. Poderia continuar listando as bizarrices, mas creio que nunca as coisas ficaram tão absurdas como agora.
Pois é. Extra, extra! O presidente do IBAMA informa: seu papel não é cuidar do meio ambiente! E mais: vejam a opinião do cara sobre o papel do governo em relação aos povos indígenas:
Kurt Trennepohl para a jornalista australiana: Vocês tem os aborígenes na Austrália e não os respeitam
Jornalista: Então você vai fazer com os indígenas o que nós fizemos com os aborígenes?
Kurt Trennepohl: Sim! Sim!
Esse vídeo tem que rodar o mundo. Como se não bastasse o setor “ambiental” do governo abaixar a cabeça derrota após derrota, dando licenças fraudulentas, sendo conivente com o desmantelamento de nosso Código Florestal e se recusando a dar proteção para aquelxs que foram jutradxs de morte pela defesa da floresta e pela luta campesina, olha só o naipe do responsável pelo licenciamento ambiental no Brasil.
Como se não bastasse Zé Castanha, Chico Mendes, os Avá-Canoeiro, o genocídio anunciado da colonização, o genocídio institucionalizado pela falta de atendimento em saúde, que se traduz em números assombrosos da mortalidade indígena! E ainda tem gente que, enquanto detentor de poder, enquanto gestor público e enquanto ser humano tem a coragem de fazer apologia à violência para com os povos indígenas!
Sério, até quando?